quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Irmandade Espúria


E assim suas palavras lançaram-se ao ar,

Como o apocalipse em uma profecia

Surda, que punha o tempo na cadencia

Antiga do bom homem no mau lugar.



Nós éramos a irmandade espúria,

Forjada pelo sangue que agora está

Aí, na pedra do esquecimento e acolá.

Oh, eu era tão ligado. E não me partiria.



E a visão do outro rosto só se agora

Recorria aonde o diabo talvez mora:

Pode ser dele, pode ser um, ser meu ou seu



O irmão espúrio. Quem sabe quando vir, eu

Não esteja, você abrir a porta e ir embora.

Oh, eu ainda estou tão ligado. E o outro partiu.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Entornado Leite




Eu nasci cego neste novo mundo
Que, como um andarilho, percorreria
Sem rumo, de porta em porta, pedindo
Qualquer raspa e resto, uma doçura fria.

Porém vem-me ela, fazendo-se de guia,
No instante em que quis segurar minha mão
E, de toda sujeira e chuva que caía,
Quis dividir comigo sua proteção.

Depois disso, meio que mãe, meio que amante,
Aninhar-me-ia pr’a, de seu esquerdo peito,
Sorver sua essência, seu entornado leite.

Ó amada mãe, repouse-me no leito
Que, de teu ventre, serei renascente.
Ó mãe amada, reze-me o eterno acalento.

19/03/10

terça-feira, 9 de março de 2010

O PEREGRINO


I – O Abismo

O que há aqui é a solidão. Estou no planalto,
O Sol no horizonte; crepúsculo ou alvorada,
Pouco sei, mas sei de sua luz lânguida
Prostrada na terra por seu frio vento.

Abaixa há vozes de amantes, um grito
De gozo, um sussurro. Musicalmente
Um tambor convulso (ou um coração?) bate
Regido pelo paladar do Fruto.

Se miro o meu olhar para o abismo, nada,
Além do escuro e do mistério, é visto
Porém sei que o fundo é uma nova saída:

Se pular, eis a minha alma escaldada,
Eis os vermes da terra e o rompimento
Da tripa, eis a criatura renascida.

03/03/10

II – O Destino

O meu destino derradeiro é fugir
Tanto daquela, quanto desta outra opção,
Tanto da incerta frieza da solidão,
Quanto da dor abismal de meu cair.

O meu destino final é meditação
Eterna sobre as vozes que vivo a ouvir;
Imparmente atraem-me à alegria de meu devir.
Qual destas duas vozes não é a perturbação?

Se vier o crepúsculo, eu devo pular,
E se subir o meio-dia? Fico a um passo
O meu destino é prosseguir no limiar

Da vida, à espera atemporal do quando
Vindo do astro. Por enquanto, eu não passo.
O meu destino verdadeiro é o medo.

05/03/10





III – O Fico

A brisa do otimismo, por um piscar
De olhos, traz o frescor a minha mente,
Levando à tona o que então estava latente
E que antes se admitia sem nenhum pesar.

Atribuo-me uma posição paciente,
Cujo risco é menor. Eu devo ficar.
Demais é o perigo a quem não se expõe ao azar
E depois, ao prêmio, se faz ausente.

Os meses, os anos e o tempo todo
Desafio, fico até que seja eu um bocado
Sem brilho de carne, pele e de osso

Para que não reste vivo remorso
Daquilo que um dia pode ser vivido.
Em prol de uma chance, eu digo “fico”!

07/03/10

IV – O Cego

Não! Eu vou atrás do batuque e do tambor,
Abdico de mim mesmo e caio no oculto,
Em uma viajem da qual não mais volto.
Eu devo pular. O que perdeu o valor,

Durante o tombo, a mim estará junto,
E quando vierem os vermes, sem horror,
Tudo romperão e, com terra, sobrepor
Irão, minha alma, meus olhos, meu peito.

Renuncio às incertezas de um futuro
Expectado em favor daquilo que não
Imagino nem planeio, mas procuro.

Pois, se, quando desenterrar-me do chão,
Estiver o Sol em brilhante agouro,
Indiferirá a quem já perdeu a visão.

09/03/10

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Cota Hexa


“Festa rubro-negra domina a cidade[...]”
O Globo, 07/12/09


Stop.
O tempo parou
Ou o Flamengo foi campeão?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Apresentação




Olá!, meu nome é Caramuru - o homem filho do deus trovão -. Anoiteci ao sul do Equador, na terra onde não exisitia o pecado, em que os homens viviam em harmonia tanto com a natureza, quanto com si mesmos. Todavia, ao acordar, deparei-me com um mundo muito diferente do que eu vivi; um mundo cinza, onde apenas encontro o aço, o asfalto, o concreto, a sujeira e o infeliz império da desconfiança mútua.
Motivado pelo espírito guerreiro de meus antigos patrícios, tendo abandonado meu consagrado mosquetão e adotado o lirismo de minha poesia, assim como a música de meu pandeiro como minhas modernas armas, lancei-me em uma cruzada pessoal contra o que considero os inimigos do homem tão presentes nesta nova realidade: o desrespeito, a ganância, a tristeza, o materialismo cego e o desentendimento...
Apesar de ser muito clara a força mosntruosa de meus 'inimigos', minha fé em trazer à tona os valores de pouco mais de quinhentos anos atrás é inabalável. Minha pretensão é fazer do meu codenome, as minhas ações, ao lançar trovões de crítica, emoção e celebração contra o lado obscuro do mundo.
Minhas armas, sem dúvida, são a parte menos primordial desta minha jornada, mas sim, é a essência anímica de meu ideal exaltado por xamãs da música, das artes e da literatura que assumem o papel central de tudo isso. Sendo este, por fim, o meu convite místico para deixar-se possuir pela alma deste chamado com o intuito de formar uma aliança em busca do que, um dia, já fez este lugar chamar-se paraíso.
03/10/09

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Soneto À Rosa


Ó, Rosa, vejo que pela vaidade,
Em tanta seda, você se faz lustrosa,
Com o mais fino perfume, a beleza
Sua, em todo o jardim, não tem igualdade,

Porém, gostaria que soubesse, ó, Rosa,
Que uma bela flor logo tem seu poente,
Que toda seda fica velha e esgarça
E que a vaidade se esvai em um instante.

Mas, caso for verdade, belíssima flor,
Que o tempo é soberano e decadente
Para a matéria, de pequeno valor

É teu brio. Se quiser vencer o tempo,
Seja vaidosa ao que o corpo transcende
E será a mais bela em todo momento.

19/10/09

domingo, 11 de outubro de 2009

Poema À Evolução Humana


“It’s evolution, baby”

Eu sou o homem, eu sou a civilização
Minhas mãos realizam coisas incriveis,
Pois eu sou a sexta divina criação,
Feito para estar no topo e sermos reis.

Para sustentar a minha coroação,
Eu mato no momento necessário
E também quando ainda existir outra opção,
Caso assim me mantiver perdulário.

Pela minha causa de valores fieis
Aos instintos aferidos da razão
Cega de minha fome, eu chego a absurdez

De assumir o estado de um ser primário
Dotado de uma desumanização
Feita em engenhos autofagocitários.

10/10/09